Bom, antes de mais nada, recomendarei só uma coisinha:
senta, que lá vem textão!
O ano era 2014, e a novela das onze era O Rebu, uma novela
que se passava apenas em um dia e que não foi tão bem aceita porque isso a fez
ficar um pouco lenta, mas a Globo demonstrava que queria continuar a investir
nessa faixa, mesmo com a baixa audiência da então novela atual.
Para dar uma renovada nos ares, a emissora resolveu investir
em tramas inéditas no horário, que foi criado para abrigar remakes de novelas
bem antigonas. A sinopse aprovada para ser a primeira novela das onze com uma
história inédita foiiiiii... wait for it...
... SETE VIDAS!!!!!!!
Sempre procuro motivos banais para usar esse gif lindo <3 |
Sim, a novela de Lícia Manzo, que nos encantou com toda a sua
sensibilidade no horário das seis, seria uma novela das onze, mas o chefão do
núcleo de dramaturgia, Silvio de Abreu, leu melhor a sinopse e achou que ela se
encaixaria mais como uma trama das seis, claro, que com ajustes, porque uma
novela das onze é beeeeem mais safadinha e conta com menos personagens
paralelos e com uma duração reduzida pelo menos à metade da de uma novela "normal".
A Globo, então, ficou sem uma novela das onze para chamar de
sua, aí, os executivos da emissora pensaram: “e agora quem poderá nos defender?”. Sim,
ele, o pau pra toda obra, o santo multiplicador de capítulos de novela, Walcyr
Carrasco.
A essa altura do campeonato, Walcyr, que tinha encerrado sua
última novela (Amor à Vida) em janeiro de 2014, estava descansando e pensando
em sua novela das seis para 2015/2016, mas, como ele não recusa desafios,
aceitou elaborar uma novela mais adulta e usou umas pesquisas antigas sobre
o submundo secreto da moda para dar corpo à trama. E foi, assim, que nasceu
essa obra-prima, chamada de Verdades Secretas.
Que abertura! |
Mas novela não se faz só pelo autor, tudo que é escrito no
papel ganha outra vida e pode até melhorar quando encontra uma direção precisa e
atores muito envolvidos. E foi isso que aconteceu com Verdades. O texto de
Walcyr, apesar de estar mais sutil e menos escrachado em relação às suas
novelas anteriores, foi aprimorado e perfeitamente fundido à direção ousada de
Mauro Mendonça Filho. Ah, e o elenco... mas que ELENCO!
Drica Moraes, que entrou na novela aos 45 minutos do segundo
tempo, substituindo Deborah Secco, simplesmente arrebentou no papel e soube dar
o tom certo à personagem (amo a Deborah, mas não dá para imaginar a novela sem a Drica). Para mim, graças à atuação de Drica, que compreendeu
super bem o texto bem amarrado do Walcyr, junto com a direção certeira de
Maurinho, fez com que o final da personagem ficasse coerente e aceitável e até
justificou a tal burrice dela tão comentada pelos telespectadores. Na verdade,
Carolina já sabia da traição da filha e do marido, ela só não queria ver, não queria aceitar e, com toda sua
baixa autoestima, ao descobrir o “amor” da filha por Alex (Rodrigo Lombardi),
chegou à conclusão de que era ela que tava sobrando ali e deu sua vida para a
filha ser “feliz”, algo coerente, pois, desde o começo da novela, Carolina ou Cora (fazendo referência à louquíssima e mal elaborada personagem da atriz em Império), como é carinhosamente chamada pelos tuiteiros, mostrava ter uma entrega fora dos limites à filha a quem julgava ser uma doce
menina.
Já Angel, por sua vez, também brilhantemente interpretada
pela estreante Camila Queiroz, com toda sua ingenuidade e imaturidade no início
da novela, foi se deixando envolver por Alex e passou a achar que o que ela
estava fazendo com a mãe era aceitável, era para o bem dela. Só que, ao ver
aonde tudo aquilo chegou, ela caiu em si, mas, mais uma vez, com a sua
imaturidade, jogou a culpa toda em Alex. A partir do momento em que ela viu a
mãe morta (em uma cena maravilhosa, o que era aquela filha envolta no sangue da
mãe, parecia que aquela sangue fazia parte do corpo da própria Angel), a
expressão da “menina” mudou completamente, o que, mais uma vez, foi perceptível
graças à ótima interpretação da atriz e fez com que o público já começasse a
perceber o final que estava por vir: Angel se vingaria de Alex em um crime
premeditado, saído de uma mente doentia e usando a mesma arma com que a mãe se matou e passou a novela toda alisando.
Com Verdades Secretas, Walcyr queria retratar o lado obscuro
da mente humana e ver a doce “Letinha” se transformar em uma Angel psicopata
(na verdade, em uma "devil") encerrou muito bem todo esse ciclo e ainda serviu
para fazer uma crítica à impunidade vigente em nosso País, claro, que com
falhas de roteiros justificáveis para uma novela (como assim, não teve busca
pelo corpo? É novela né, gente!).
A última sequência, a do casamento de Angel com Gui (Gabriel
Leone), logo após o assassinato de Alex, estava completamente fora do clichê de
casamento de final de novela. O olhar de Angel e o beijo dissimulado naquele crucifixo
deu a ideia de que a história não terminava por ali. E é assim que tem que ser:
novelas são cortes da vida de determinados personagens, mas, depois do capítulo
final, a vida de todas aquelas pessoas vão continuar e, talvez, Angel ainda vá
se dar mal, mas isso não precisou ser mostrado para o público.
Bom, e, do resto do elenco, ainda tem muito o que ser
falado: Rodrigo Lombardi é sim um ator com limitações, mas tais limitações
foram usadas a favor de seu personagem, o frio, inescrupuloso e sedutor Alex,
que achava que o mundo sempre giraria ao redor dele e de seu dinheiro, mas
acabou pagando por toda essa sua arrogância no final.
E o que falar de Fanny, maravilhosamente interpretada por
Marieta Severo, recém-saída de Dona Nênê. O final da personagem foi uma das coisas
mais hilárias e totalmente pertencente ao universo Carrasquiano: a personagem
avaliar o corpo de seu novo gigolô e, depois, virar o olhar diretamente para o
telespectador e dizer um sonoro SERVE acompanhado de um olhar de conformação
foi de bolar de rir e aceitável devido ao tom dado à cena.
Rainer Cadete e seu impagável Viscky caíram como uma luva
para o personagem mais carrasquiano da novela. A relação de tapas e beijos
entre o capacho da absoluta Fanny e a mal amada Lurdeca (Dida Camero – muito bem
na personagem também) parecia algo à parte na novela, por ter uma qualidade
inferior aos demais núcleos, mas também por soar como um bom alívio cômico à
tensão altíssima das outras partes.
Por falar em tensão altíssima, não tem como não citar e não
dar vários elogios à Grazi Massafera, que, comendo pelas beiradas, fez de sua
drogada Larissa, o personagem que serviu para quebrar paradigmas em sua
carreira. Tudo estava em perfeita sintonia nas cenas da personagem, a
abordagem criada por Walcyr e as técnicas realistas usadas pela direção junto
ao show de interpretação da atriz, que jogou de vez no lixo todos os
preconceitos que sofria por ser uma ex-BBB, junto com seus parceiros de cena
Álamo Facó ( o evangélico que ajudou Larissa a se regenerar) e Flávio Tolezani
(o também drogado Roy, que, no final, não quis partir para uma regeneração), fizeram da trajetória da personagem uma história emocionante e muito envolvente
de ser acompanhada.
As experientes Ana Lúcia Torre e Eva Wilma também tiveram suas
chances de dar seus shows de atuação. A primeira como uma avó iludida e
corroída por uma doença que a fez aguardar, silenciosamente, pela morte, e a
segunda com uma personagem maravilhosa e cheia de nuances e ironias, a
alcoólatra e sarcástica Dona Fábia (senti a falta de uma cena final dela, não
que a história dela não tivesse sido concluída, mas é que ver o show de atuação
de Eva Wilma nunca é demais).
Ferando Eiras fez uma participação especial nos últimos capítulos como o afetadíssimo estilista Maurice (inicialmente escrito para Ney Latorraca) e também deu um show de atuação.
Ágatha Moreira (Giovana) e João Vitor Silva (Bruno) também
tiveram ótimos momentos e se mostraram ser atores maduros apesar da pouca idade. Com certeza, estão mais do que prontos para brilharem cada vez mais nas
nossas telinhas.
Bom, Verdades Secretas, com certeza, chegou ao fim como a
novela que mais envolveu o publico neste ano de 2015 e suas qualidades serão
ainda exaltadas, merecidamente, nas premiações de fim de ano, e Walcyr Carrasco
continua se mostrando incansável e já vem aí, no comecinho do ano que vem, com
uma novela nova, agora, no horário das seis, trazendo aquele estilo de novela
interiorana, cheia de personagens caipiras caindo na lama e jogando tortas nas caras uns dos outros, que marcou seu início de carreira na Globo lá nos anos 2000, com grandes
sucessos, como O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea, o que só
comprova a grande versatilidade do autor. Ah, e, hoje, saiu na mídia o possível
título definitivo da novela: Eita Mundo Bom!
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